Outro dia, em uma nota de rodapé qualquer eu li que
nossos atos tendem a se repetir, querendo ou não, percebendo ou não. “Nossas
ações futuras, são pautadas nas anteriores”, se não me engano eram essas as palavras. Fiquei pensando naquilo, mais do
que em todo o texto. E de repente, tudo fez um sentido que não havia feito
antes. Essa sou eu. A repetição de alguém apaixonada sempre pelo impossível. Pelo charme, pelo
perfume, pela inteligência, pela diferença. E essa sou eu, atada a sete nós pela
insegurança. Pelo medo de perder alguém que tive medo de conquistar. Minhas
mãos, meus pés, meu corpo todo preso. Sou sempre inexperiente em dar um passo à
frente, e isso me assusta e me irrita. Sou eu, confusa. Não sou boa em fazer novas amizades, e
sou péssima em mantê-las. Por medo de perder, eu afasto. Por medo de sofrer, eu
observo de longe. Sempre esperando não ser atingida por qualquer resquício de
dor, de sofrimento. Mas o que acabo ganhando é um monte de nada. Um vazio, sem
qualquer coisa pra preencher. Uma vida de felicidade vigiada. De alegrias
incompletas e controladas. Porque eu não consigo ser eu, seja lá quem eu sou? É
como se nunca eu fosse me encaixar, não importando o tempo e o espaço, nada
parece pra mim. Meus livros que estão sempre inacabados, minhas promessas
sempre desviadas, minhas histórias que não sei se batem com a realidade, minhas palavras não ditas. Vivo me contando mentiras, para acreditar que seja normal ser
como eu sou, mas a verdade é que não é. As pessoas dizem: se você quer, faça,
corra atrás. Eu mesma digo isso. Quanto hipocrisia ! A verdade é que eu me acostumei tanto em me arrepender de não
ter feito nada, que me acomodei a essa posição. E agora me vejo, de novo,
pautando minhas novas ações, nas estúpidas atitudes do passado. Quero um amigo,
mas não consigo conversar com ele. E isso não é só uma questão de pensamentos,
e sentimentos. Isso se tornou físico pra mim. Não consigo tomar nenhuma atitude, a não ser assistir tudo acontecer, e fingir que não faço parte, que não preciso tomar uma atitude. Sinto-me enojada, ao me olhar no espelho, por ter tanto medo: medo de ele me
recusar, de rir de mim, de não querer ser meu amigo. Medo de perder o que não tive
coragem nem te conquistar. Medo, medo, medo. Uma vida pautada assim. Uma vida,
de cenas repetidas de insegurança. Uma vida minha, vazia de mim.