segunda-feira, 28 de maio de 2012

Hoje, pela primeira vez encarei o infinito. E adivinhem? Ele, docemente, olhou de volta. Deu um sorriso bobo, de lado, quando percebeu o medo escancarado em meu olhar, e como que dizendo venha sem medo, abriu-se ainda mais infinito. Me senti tão desnuda quanto ingênua. Tão medrosa quanto ávida a arriscar. Me senti paradoxo, como sou. Eu sabia que podia pular. Estava preparada. Todo meu esforço, todo meu desejo se transformando em realidade concreta pura. Bastava que eu pulasse. Um risco em troca de grandes caminhos. Um pulo. Um passo em direção à queda livre, a qual sempre planejei. O infinito já me olhava inquieto, pela demora. Tudo e todos me diziam que não havia pessoa mais preparando que eu para saltar. Mas não sei o que me deu. Acho que foi essa coisa que não sai de mim. Essa timidez avassaladora, que quando chega... que não chega nem sei ser eu. Sei apenas temer, pensar, pensar pensar, e não fazer nada. Porque esse pensamento milimétricos consomem meu poder de ação, e somem com qualquer reação que eu deveria ter. Então me perdoe infinito, e peço que não me olhe de novo com essa cara esperançosa. Essa de quem esperava me ver fazer algo. Me ver pular. Me desculpe infinito e peço que saiba disso: te admiro muito, mas acabo vivendo aqui comigo, sozinha, a pensar.

(Esse texto não fez sentido, mas tudo bem, escrevi e fez bem).

terça-feira, 22 de maio de 2012

Meio ela.


Não sei se foi a meia hora que iniciava o amanhecer, ou a meia hora que estreava a aurora, mas sei que aconteceu.

A verdade é que ela se fez em meia hora. Trinta minutos, sem mais nem menos. Três mil e seiscentos segundos fizeram-na. Não me pergunte se foram suficientes, porque sou míope e pra mim, ela não passa de um borrão.

Não se assuste. A pressa já perdeu a velocidade, virou rotina, virou o novo marcador do tempo. É a vida, corrida. É o movimento que ninguém pode parar. Ninguém pode parar. Ele ecoa. E nas ondas desse eco, fizeram-na assim: meio noite, meio dia; meio cheia, meio vazia; meio feliz, meio com medo; meio cética, meio poética; meio sonho, meio realidade; meio abstração, meio de verdade; meio jazz, meio samba; meio Hollywood, meio Copacabana; meio cópia, meio original; meio romance com happy end, meio terror trash; meio ação, meio observação; meio inexpressiva, meio fatal.

A verdade é que de metades ela está cheia. De metades, ela se fez e se faz. De metades ela se completa.


- Anallu Goes.

Um pouco de cinema e Adélia.


Enquanto o trem se encaixa no enquadramento, repito alguns versos de Adélia Prado. Registro.O facho de ouro jorrado porta adentro” se faz à minha frente, em minha mente. Enquanto a chaminé apita, e espalha toda a fumaça no ar, consigo vê-la, com fome, e que fome. Fome da mãe. “A mãe no fogão atiça as brasas e acende na menina o nunca mais apagado na memória”. Fome de guardar aquele momento, tão rotineiro quanto único. Tão feijão com arroz, quanto delicioso. Não que eu não considere feijão com arroz um prato gostoso, mas a verdade é que a comida dela tinha um tempero a mais, um tempero que ninguém jamais conseguiria acertar. O tempero das histórias que empoeiravam a cozinha simples. O sabor das memórias que se faziam vivas, tão vivas, que chegavam a pulsar em seu poema. Consegue ver? Consegue ver? Não com os olhos, seu tolo! Feche-os até sentir a força das pálpebras se contraindo. Aí sim, agora você vê. Oh, ela saiu do quadro de visão. Onde foi parar? Aquela criança que estava de mãos dadas com a mãe, você não viu? Ah, não importa! Continue sentindo. Continue faminto por sentir. E eu estou indo, meu trem mal chegou já está partindo, vou espalhar essa história. Vou semear Adélia. Com toda fome.

- Anallu Goes

sábado, 19 de maio de 2012

Pontuação.

Declarei-me poeta. 
Pus um ponto final para que perceba minha declaração.
E ao final de minha fase incrédula, coloquei outro ponto final. 
É preciso sensibilidade para perceber que essa fase, dita em frase, merece um ponto final.
Foi um período enorme de descrença, o qual fui escrevendo, escrevendo, escrevendo, e me perdendo sem entender o que sou.
É difícil se escrever, e botar um ponto final.
Mas então, me incomodei com tantas interrogativas diretas. Os pontos de interrogação já não cabiam sem explicação. As exclamações ao encontro de suas interjeições. Ora! Não me pontue tão grosseiramente. Use cada símbolo delicadamente. 
Escrevo, escrevo e depois dos dois-pontos esclareço: sou muito mais do que cabe entre um par de vírgulas, numa oração explicativa. Além disso, sou às vezes, restritiva - vírgulas não cabem aqui. Certos momentos, só separando minhas orações, eu faço sentido.
E jamais, em tempo algum, me separe de minha ação. Sou sujeito que precisa de verbo, e isso vírgula nenhuma pode separar - nem eu nem a gramática podemos aceitar. 
Eu sou poeta, por isso mereço reticências.


Eu sou poeta...


- Anallu Goes

sexta-feira, 11 de maio de 2012

Amante desse paradoxo.

Vivendo de felicidades raras e rasas.
Soluçando lágrimas agridoces.
Cobrindo de sorrisos, as dores.
Encolhendo os olhos, expandindo o riso, aumentando o tom da gargalhada.
Se fazendo cantora de chuveiros, e amantes de bobeiras que se fazem tão belas.
Sem dúvidas, duvidando das certezas.
Fazendo do meu rosto, caretas.
Aprendendo que saber não é suficiente.
Sentir é latente demais, para deixar pra lá.
Dependente da independência.
E, mais que tudo, moldada de esperança. Essa esperança que que me deixa ser tudo, essa fé que acredita no mundo, e na imaginação. Essa esperança que me completa, me traz, me leva, me tira do chão.
Sou uma personagem de um conto de fadas que se faz em páginas gastas de emoção.

- Anallu Goes

quinta-feira, 10 de maio de 2012

Deus de vez em quando me castiga. Me tira a poesia. Olho para uma pedra e vejo uma pedra.


- Adélia Prado

quarta-feira, 9 de maio de 2012