quinta-feira, 8 de novembro de 2012

Bobagens.

Guardei um pouco de chuva
e pipoca doce pra nós dois
E desatei os nós depois,
pra ninguém se perder.

Maldizer a rotina é coisa
de quem não acorda
com a luz que descortina
dos teus olhos todo dia

E se eu apagar uma coisa ou outra
Não me faça pagar de boba
Não me faça despir minh'alma.

Fecho os olhos, miudinhos
pra deixar que o vento sopre
e que a roupa amarrote.
Faço coque preguiçoso,
e fico fora de área.

Encosta (na) a porta
Que o sim nos convida.
E a tristeza? Tá de partida.

terça-feira, 6 de novembro de 2012

Blue bird.

Aquarela,
noite vela
e a tinta se derrama sobre mim.

Faz-me nela,
faz-me dela,
alma e tela,
cor e sim.

Pincelada,
tudo ou nada,
sejas flores do jardim.

É que o sono,
madrugada,
me invade e por fim

desse burburinho eu faço samba
acapela
e a dor que dói de amor é coisa bamba
de novela
o sol já vai raiar o novo dia
agonia
e as doses, ah, as doses
não se regam, não se rimam,
só me fazem
ser prazer e poesia.
É que, quando perco a esperança, encontro a poesia.

quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Distante, distante,
de um instante distante,
é que eu preciso.

Mas as coisas planejadas na abóbada
não são de concreto não, meu bem.
Porque ela vem e destrói tão, tão facilmente
que parecem colunas de gelatina.

E não importa quanto tempo passe
Não conta onde eu esteja,
é inerente.

Sufocante.

domingo, 14 de outubro de 2012

Ontem me contaram que sou feliz.
Não paro de rir desde então.


Não sei se rio de alegria.
Não sei se rio de ironia.

- Anallu Goes.

domingo, 30 de setembro de 2012

Fui pega contando estrelas. Me disseram que era inútil continuar, que não havia fim, que não contaria todas, e talvez, contasse as mesmas, pois eram todas parecidas. Era perda de tempo. Idiotice. Mas eles não vêem. Não conto estrelas pelo resultado. Não é nenhuma contagem quantitativa. É estritamente qualitativa. Porque, quando a insônia vem, as estrelas me encontram e me acompanham. Nos embalos da madrugada. E elas brilham, unicamente, meu caro amigo. Confundi-las é para aqueles que não as admiram. Conto pra me desprender do chão. Pra encontrar o céu. Olho pra cima, em busca de algo mais. Algo além do que o esperado me reserva. Algo além do que o útil me entrega. Por eu tenho certeza de que, depois no número dez, já perdi a conta e a direção. Mas ganhei sentido, sono e sonho. E um pouco de paz, também. Ocupei minha mente e, de quebra, meu coração com algo bom. Uns contam ovelhinhas - e acho elas fofinhas. Mas eu, eu conto estrelas, coração.

- Anallu Goes.



terça-feira, 25 de setembro de 2012

Hoppípolla!

E ela veio.
Serena.
Veio assim, sem avisar.
Mas não ligo não.
Veio assim, pra arrasar.
Mas não ligo não.
Levou e lavou o que tinha no seu caminho.
Minh'alma estava lá.

Ai, ai.
Posso senti-la.
Como dizem os islandeses
(perdoem minha pronúncia),
Hoppípolla!
Ai, ai.

Ela veio, como o veio de um rio.
Escorreu delicada pelas curvas do rosto.
Atrevida encontrou teus lábios.
Respigou alegria.

Bem-vinda, chuva.



terça-feira, 11 de setembro de 2012

Ai!

_ Amantes.
_ Aos montes.
_ Amador!
_ Ama a dor?
_ É.
_ Por que ama a dor?
_ Não amo a dor, amo o amor, mas sou novo nessa coisa.
_ Ama o amor?
_ Ou será que o amor é que me ama?
_ Onde a dor entrou na história, me explica, por favor?
_ Não queria falar de amantes?
_ Queria.
_ A dor é intrínseca, meu amor.
_ E como amar?
_ Não sei.
_ Não sabe?
_ Ah, somos um bando de amadores, que não sabemos o que é o amor!
_ Meu deus! Quantas dores você ama?

- Anallu Goes

Me desculpem a confusão.

São 00:41
Não tenho nada.
Tentei dedilhar qualquer melodia
mas meus dedos curtinhos não ajudam.
E minha falta de coordenação motora entra na dança.
Pus o som baixinho, pra não acordar o vizinho.
Contradança.
Que cadeira desconfortável.
Rodo.
A música pega minha mão direita, e me chama pra dançar.
Os pés descalços,
as mãos, desajeitadas,
a cabeça dando vida às bobagens do coração.

Cada barulho na madrugada parece trovão.
Te conto um segredo:
tenho medo de trovão.
A madrugada, seu silêncio trincado
Pelo meu trovão.

Moço, são 01:00
Não tenho nada.
Nem poesia,
Nem melodia,
Nem companhia
                            -  só tenho insônia.

- Anallu Goes

sábado, 1 de setembro de 2012

razão de ser.

Escrevo. E pronto.
Escrevo porque preciso
preciso porque estou tonto.
Ninguém tem nada com isso.
Escrevo porque amanhece.
E as estrelas lá no céu
Lembram letras no papel,
Quando o poema me anoitece.
A aranha tece teias.
O peixe beija e morde o que vê.
Eu escrevo apenas.
Tem que ter por quê?

- Paulo Leminski

_Simplifique.
_Como?
_Simples, fique.

- Anallu Goes.

quinta-feira, 30 de agosto de 2012

segunda-feira, 27 de agosto de 2012

"dream in read".




Irresistível.
Sonhar em vermelho.
Tão parado quanto intenso.
Silencioso, e barulhento.
Hipnotizante.
Apenas sonhe.

- Anallu Goes.

domingo, 26 de agosto de 2012

O substantivo é pretensioso
por acreditar que pode denominar tudo.
O adjetivo, vulnerável
substituível, acessório, mutável.
O que me resta é o verbo:
eu ouço suas vozes,
que se flexionam
que me acionam.
Verbo provoca.
Tempo, modo, voz, número, pessoa.
Tudo me afeta.
Pareço mesmo é um verbo defectivo,
                                     [sem conjugação completa.
- Anallu Goes.

sábado, 25 de agosto de 2012

Torna isso um ritual,
mas não uma rotina.

Inspira a dor.

Expira a dor.

E faz um favor:
não respira só ela.

Deixa espaço pra entrar mais coisa nesse peito, menina.
                                                                   

- Anallu Goes.
Todo sopro que apaga uma chama, reacende o que for pra ficar.

- O Teatro Mágico.

quinta-feira, 23 de agosto de 2012

_ Moço, quanto cabe dentro da medida do possível?

-Anallu Goes

dependência.

É real.
Estique os braços um pouco mais, e poderá alcançar.
Seus dedos, sensíveis, saberão que encontraram
Mas não lhe faça cócegas:
é real, mas como tudo,
está suscetível a se desfazer num piscar de olhos.
Toda a precisão, toda a procura, toda a entrega.
É real,
mas é vulnerável.

-Anallu Goes.

quarta-feira, 22 de agosto de 2012

tão breve.

Tem curva
mais bonita
mais perfeita
mais espontânea
mais harmoniosa
do que a da boca sorrindo?

- Anallu Goes.

Da felicidade.

Quantas vezes a gente, em busca da ventura, procede tal e qual o avozinho infeliz: em vão, por toda parte, os óculos procura, tendo-os na ponta do nariz!

- Mário Quintana

terça-feira, 21 de agosto de 2012

canta, menina, canta!
ouvi dizer que quem canta seus males espanta
então espanta a angústia
espanta o medo
espanta a solidão
espanta, espanta, espanta
e canta!
canta bem alto, desafinado, com o coração
e emenda uma dança
dois-pra-lá-dois-pra-cá
ai, que beleza! aqui não se faz tristeza!
e a saia roda
e a roda roda
e o samba rola
as palmas marcam
e não há mal que lhe atinja
não há mal que aflinja
há apenas música, dança, alegria!
canta! perde a voz, mas ganha sorriso.
esbarra na felicidade e chama ela pra sambar!

- Anallu Goes

sexta-feira, 17 de agosto de 2012

Somos feitos da mesma matéria que nossos sonhos.
-William Shakespeare.
Enquanto os tempos mudam
e os ventos se curvam
em outras esquinas
Ray Charles canta no rádio
do meu Ford Corcel Sedan.
Meu clássico brasileiro,
descobridor do mundo inteiro.
Hit the road, Jack, and don't you come back no more.


- Anallu Goes

segunda-feira, 30 de julho de 2012

Estava lendo poesia
a essa hora do dia.
Cinco horas da manhã que galo não canta.
Vivo na cidade, menina.
Quem canta por aqui é pneu que corre na pista.
Nas curvas de arranha céu que ainda bem não arranhou o céu ainda,
mas que é alto a perder de vista.
Estava lendo poesia,
e raiou o dia.
Me esquivei do cotidiano
e esbarrei na contramão.
Me aninhei nos cobertores
e fechei os olhos,
enquanto os sinais abriam.
Enquanto a cidade se espreguiçava veloz,
eu dormia, atrevida, por ignorar as ordens,
por mudar o tempo.
Só acordo quando a cidade dorme.
Rotina me nina.

- Anallu Goes.

rima combina.

Fujo.
Finjo.
Re fujo.
Refúgio.
Refuljo.
É, refuljo.


- Anallu Goes.

sexta-feira, 27 de julho de 2012

Uma mancha de café.


Ler o futuro  passado nas borras de café.
Pra poder entender a insônia insolente
que traz consigo inspiração enganação.
Tenho olheiras porque verso tem fotofobia.
Verso bom não pode com a luz do dia
- ele se solta de madrugada.

-Anallu Goes.

quinta-feira, 19 de julho de 2012

Me questionaram, certa vez, pela manhã:
_ Tudo que você escreve você já viveu?
Pergunta clichê. Mas respondi, ensolarada:
_ Claro que sim!
_ Uau!
_ Pois é! Você não sabe a vida que a imaginação é capaz de me proporcionar!
_ Ah, mas então é de mentirinha? É da sua cabeça?
_ Pra mim é mais verdadeiro que muita verdade que as pessoas dizem saber. Não é de  mentirinha: é a forma como o mundo se mostra pra mim.


-Anallu Goes.

Na busca constante por algo longevo.
Entro em conflito com a erudição. Um, duas, centenas de vezes.
Quero simplicidade vulnerável.
Me ocupei em cercar tudo com cerquinha branca.
E borrei a porta da cor do céu.
O tédio se entreteve com minha rotina.
E então ele veio. Zanago.
O rotacismo? Um charme, à parte.
Chamo-o de napalm.
Porque ele tornou tudo incendiário.

-Anallu Goes.
Faz nada não.
Vou por aqui divagando, derramando, ponderando.
Gerúndios não me faltarão.
E você? Você num faz nada não.
Que eu estou te olhando, me inspirando e por atrevimento, quem sabe, filosofando.
Eu fico aqui brincando, com meu brinquedo mais antigo.
Com meu brinquedo preferido:
as palavras.

sexta-feira, 29 de junho de 2012

Dias longos.
Diálogos.
Ele me disse seu nome 10 vezes.
Esqueci onze.
Culpo aquele sorriso alvo, calmo, que completava cada frase que sua voz entoava.
Não vou enganar ninguém, nem delongar de versos melosos.
Culpe-te por meu lapso de memória - nela não cabe mais nada além do teu sorriso.

sábado, 16 de junho de 2012


Sometimes this sheer and cheap love is reassuring.
But the truth is that there are unexpected thing in the way.
And you have to swallow some bad things
and warp this terrible visions.
I know, that's uncanny.
But don't be daunted. 
You were just blessed by this love
and nonetheless, beyond your efforts, beyond your stubbornness 
you don't seem happy.
But sometimes - especially in these cloudy days - this sheer and cheap love is reassuring.

-Anallu Goes

quinta-feira, 7 de junho de 2012

Será que chove?
Nesse breve intervalo entre o antes e agora.
Afinal, é tudo sobre isso não é? Sobre o tic, sobre o tac.
Sobre o poder dessa onomatopeia.
Regular e cadenciado.
Ah, não, não adianta lutar contra ele.
Então esquece-o, e responde-me: será que chove?


- Anallu Goes

segunda-feira, 28 de maio de 2012

Hoje, pela primeira vez encarei o infinito. E adivinhem? Ele, docemente, olhou de volta. Deu um sorriso bobo, de lado, quando percebeu o medo escancarado em meu olhar, e como que dizendo venha sem medo, abriu-se ainda mais infinito. Me senti tão desnuda quanto ingênua. Tão medrosa quanto ávida a arriscar. Me senti paradoxo, como sou. Eu sabia que podia pular. Estava preparada. Todo meu esforço, todo meu desejo se transformando em realidade concreta pura. Bastava que eu pulasse. Um risco em troca de grandes caminhos. Um pulo. Um passo em direção à queda livre, a qual sempre planejei. O infinito já me olhava inquieto, pela demora. Tudo e todos me diziam que não havia pessoa mais preparando que eu para saltar. Mas não sei o que me deu. Acho que foi essa coisa que não sai de mim. Essa timidez avassaladora, que quando chega... que não chega nem sei ser eu. Sei apenas temer, pensar, pensar pensar, e não fazer nada. Porque esse pensamento milimétricos consomem meu poder de ação, e somem com qualquer reação que eu deveria ter. Então me perdoe infinito, e peço que não me olhe de novo com essa cara esperançosa. Essa de quem esperava me ver fazer algo. Me ver pular. Me desculpe infinito e peço que saiba disso: te admiro muito, mas acabo vivendo aqui comigo, sozinha, a pensar.

(Esse texto não fez sentido, mas tudo bem, escrevi e fez bem).

terça-feira, 22 de maio de 2012

Meio ela.


Não sei se foi a meia hora que iniciava o amanhecer, ou a meia hora que estreava a aurora, mas sei que aconteceu.

A verdade é que ela se fez em meia hora. Trinta minutos, sem mais nem menos. Três mil e seiscentos segundos fizeram-na. Não me pergunte se foram suficientes, porque sou míope e pra mim, ela não passa de um borrão.

Não se assuste. A pressa já perdeu a velocidade, virou rotina, virou o novo marcador do tempo. É a vida, corrida. É o movimento que ninguém pode parar. Ninguém pode parar. Ele ecoa. E nas ondas desse eco, fizeram-na assim: meio noite, meio dia; meio cheia, meio vazia; meio feliz, meio com medo; meio cética, meio poética; meio sonho, meio realidade; meio abstração, meio de verdade; meio jazz, meio samba; meio Hollywood, meio Copacabana; meio cópia, meio original; meio romance com happy end, meio terror trash; meio ação, meio observação; meio inexpressiva, meio fatal.

A verdade é que de metades ela está cheia. De metades, ela se fez e se faz. De metades ela se completa.


- Anallu Goes.

Um pouco de cinema e Adélia.


Enquanto o trem se encaixa no enquadramento, repito alguns versos de Adélia Prado. Registro.O facho de ouro jorrado porta adentro” se faz à minha frente, em minha mente. Enquanto a chaminé apita, e espalha toda a fumaça no ar, consigo vê-la, com fome, e que fome. Fome da mãe. “A mãe no fogão atiça as brasas e acende na menina o nunca mais apagado na memória”. Fome de guardar aquele momento, tão rotineiro quanto único. Tão feijão com arroz, quanto delicioso. Não que eu não considere feijão com arroz um prato gostoso, mas a verdade é que a comida dela tinha um tempero a mais, um tempero que ninguém jamais conseguiria acertar. O tempero das histórias que empoeiravam a cozinha simples. O sabor das memórias que se faziam vivas, tão vivas, que chegavam a pulsar em seu poema. Consegue ver? Consegue ver? Não com os olhos, seu tolo! Feche-os até sentir a força das pálpebras se contraindo. Aí sim, agora você vê. Oh, ela saiu do quadro de visão. Onde foi parar? Aquela criança que estava de mãos dadas com a mãe, você não viu? Ah, não importa! Continue sentindo. Continue faminto por sentir. E eu estou indo, meu trem mal chegou já está partindo, vou espalhar essa história. Vou semear Adélia. Com toda fome.

- Anallu Goes

sábado, 19 de maio de 2012

Pontuação.

Declarei-me poeta. 
Pus um ponto final para que perceba minha declaração.
E ao final de minha fase incrédula, coloquei outro ponto final. 
É preciso sensibilidade para perceber que essa fase, dita em frase, merece um ponto final.
Foi um período enorme de descrença, o qual fui escrevendo, escrevendo, escrevendo, e me perdendo sem entender o que sou.
É difícil se escrever, e botar um ponto final.
Mas então, me incomodei com tantas interrogativas diretas. Os pontos de interrogação já não cabiam sem explicação. As exclamações ao encontro de suas interjeições. Ora! Não me pontue tão grosseiramente. Use cada símbolo delicadamente. 
Escrevo, escrevo e depois dos dois-pontos esclareço: sou muito mais do que cabe entre um par de vírgulas, numa oração explicativa. Além disso, sou às vezes, restritiva - vírgulas não cabem aqui. Certos momentos, só separando minhas orações, eu faço sentido.
E jamais, em tempo algum, me separe de minha ação. Sou sujeito que precisa de verbo, e isso vírgula nenhuma pode separar - nem eu nem a gramática podemos aceitar. 
Eu sou poeta, por isso mereço reticências.


Eu sou poeta...


- Anallu Goes

sexta-feira, 11 de maio de 2012

Amante desse paradoxo.

Vivendo de felicidades raras e rasas.
Soluçando lágrimas agridoces.
Cobrindo de sorrisos, as dores.
Encolhendo os olhos, expandindo o riso, aumentando o tom da gargalhada.
Se fazendo cantora de chuveiros, e amantes de bobeiras que se fazem tão belas.
Sem dúvidas, duvidando das certezas.
Fazendo do meu rosto, caretas.
Aprendendo que saber não é suficiente.
Sentir é latente demais, para deixar pra lá.
Dependente da independência.
E, mais que tudo, moldada de esperança. Essa esperança que que me deixa ser tudo, essa fé que acredita no mundo, e na imaginação. Essa esperança que me completa, me traz, me leva, me tira do chão.
Sou uma personagem de um conto de fadas que se faz em páginas gastas de emoção.

- Anallu Goes

quinta-feira, 10 de maio de 2012

Deus de vez em quando me castiga. Me tira a poesia. Olho para uma pedra e vejo uma pedra.


- Adélia Prado

quarta-feira, 9 de maio de 2012

domingo, 29 de abril de 2012

"Poeta não é somente o que escreve.
É aquele que sente a poesia, 
se extasia sensível ao achado de uma rima à autenticidade de um verso."
- Cora Coralina

sexta-feira, 27 de abril de 2012

Empty.


Outro dia, em uma nota de rodapé qualquer eu li que nossos atos tendem a se repetir, querendo ou não, percebendo ou não. “Nossas ações futuras, são pautadas nas anteriores”, se não me engano eram essas as palavras. Fiquei pensando naquilo, mais do que em todo o texto. E de repente, tudo fez um sentido que não havia feito antes. Essa sou eu. A repetição de alguém apaixonada sempre pelo impossível. Pelo charme, pelo perfume, pela inteligência, pela diferença. E essa sou eu, atada a sete nós pela insegurança. Pelo medo de perder alguém que tive medo de conquistar. Minhas mãos, meus pés, meu corpo todo preso. Sou sempre inexperiente em dar um passo à frente, e isso me assusta e me irrita. Sou eu, confusa. Não sou boa em fazer novas amizades, e sou péssima em mantê-las. Por medo de perder, eu afasto. Por medo de sofrer, eu observo de longe. Sempre esperando não ser atingida por qualquer resquício de dor, de sofrimento. Mas o que acabo ganhando é um monte de nada. Um vazio, sem qualquer coisa pra preencher. Uma vida de felicidade vigiada. De alegrias incompletas e controladas. Porque eu não consigo ser eu, seja lá quem eu sou? É como se nunca eu fosse me encaixar, não importando o tempo e o espaço, nada parece pra mim. Meus livros que estão sempre inacabados, minhas promessas sempre desviadas, minhas histórias que não sei se batem com a realidade, minhas palavras não ditas. Vivo me contando mentiras, para acreditar que seja normal ser como eu sou, mas a verdade é que não é. As pessoas dizem: se você quer, faça, corra atrás. Eu mesma digo isso. Quanto hipocrisia ! A verdade é que eu me acostumei tanto em me arrepender de não ter feito nada, que me acomodei a essa posição. E agora me vejo, de novo, pautando minhas novas ações, nas estúpidas atitudes do passado. Quero um amigo, mas não consigo conversar com ele. E isso não é só uma questão de pensamentos, e sentimentos. Isso se tornou físico pra mim. Não consigo tomar nenhuma atitude, a não ser assistir tudo acontecer, e fingir que não faço parte, que não preciso tomar uma atitude. Sinto-me enojada, ao me olhar no espelho, por ter tanto medo: medo de ele me recusar, de rir de mim, de não querer ser meu amigo. Medo de perder o que não tive coragem nem te conquistar. Medo, medo, medo. Uma vida pautada assim. Uma vida, de cenas repetidas de insegurança. Uma vida minha, vazia de mim.

sábado, 24 de março de 2012

Sei lá.

Incomode. Seja resiliente quando todos parecessem feitos de concreto. Quero ver o brilho nos teus olhos, por trás de toda a cor cinza que polui a cidade. Na segunda-feira, acorde depois que o sol partir. Caminhe sobre os trilhos, deixe o trem desvie de você. Abra teus olhos debaixo d’água. Veja claro como um cristal. Passe sua sexta-feira num parque, no topo de uma montanha-russa, vendo a correria correr lá em baixo. Vendo o tempo se esgotar a cada passo. Disseram às nove? Não se levante antes das dez. Trabalhe sábado e domingo, só porque você ama trabalhar, você ama o que faz. Hoje o dia é seu. Vamos lá, pé ante pé. Quando o vento cortar sua face, sinta a sutileza da vida. Do amar, do sonhar. Pise nas pontas do pé, rodopiando até a cabeça girar com você. É teu mundo girando, então deixa girar. Deixar o tempo passar, deixa a si mesmo ser. Não ouça os tabus gritados dos altos dos prédios. Quem foi que disse que é certo comprar pra ser? Quem foi que disse que sobreviver é viver? Quem deixou morte virar estatística?  Quem deixou você ignorar o bem, enquanto o mal vende jornal, estampa manchete? Quem foi que disse que animal é irracional? E quem foi que disse que é inútil flutuar? Incomode. Só hoje, tire os pés do chão.

domingo, 11 de março de 2012

Papel e caneta à mão.



Estou sempre de papel e caneta à mão. Não se assuste não quero te entrevistar, vida. Não farei perguntas maliciosas, ou nem te jogarei contra a parede. Quero apenas estar preparada, estar a postos. Quero apenas anotar, cada cena, cada comentário. Quero não me esquecer das deixas, das queixas, dos canários.

Folheei algumas páginas desse meu caderno de anotações, e deixei sorrisos escaparem do canto dos lábios. Deixem lágrimas borrarem o 'o' da dor. Ah, e é claro, as anotações de rodapé, cheias de risadas sonoras, confetes jogados no ar, cabelos rodopiando, rodopiado, jogados, descabelados. Ainda sinto o perfume das rosas que descrevi, que despetalei, que quis bem-me-quer. Oh, e a aspereza dos calos não me assustam quando vejo quantas palavras ricas a experiência trouxe. O que me arremete ao som dos dedos teclando sedentos, pra falar, falar e falar  - e como esses dedos falam. Que página suja é essa? Será isso a lama em que o branco se afundou em que as mãos se entrelaçaram e fizeram arte? Essa mesma lama que sua mãe gritou que lhe fizera perder a camisa novinha, presente da tia? E por falar nisso, onde será que anotei sobre os discos velhos, apinhados de poeira, detentores de tangos tão tradicionais quanto apaixonados, que fizeram teus sapatos gastos riscarem o chão da sala? História que ouvi centenas de vezes minha mãe contar, “ainda lembro-me da minha madrinha dançando desse jeito aí ó, lá nos bailes; era a coisa mais linda.”

No chão riscamos à giz os desenhos de uma família feliz. Dos trecos e velharias, fiz brinquedos que brincaram minha infância inteira comigo, e duraram mais do que aqueles caros, comprados pelo papai Noel – ainda tenho alguns rascunhos de cartas que lhe escrevi, meu bom velhinho.

E cá está meu agradecimento eterno ao meu criado mudo, por sem dizer nada, sempre estar lá ao meu lado, dando luz à meia noite no meu quarto, quando a insônia não dava descanso aos meus olhos. Esses olhos cansados, porém atentos. Guardados atrás de lentes que me ajudam com esses 4 graus de miopia. E o que os olhos não veem, o coração sente sim. Ele vibra diante de um grito daquela torcida pouca, mas boa, que se uniu no Bonfim. Ele grita, tão ou mais alto que a música, samba-de-raiz, que sacode meus pés, às vezes antes mesmo que eu perceba. E vou sambando, se Deus quiser, até o anoitecer. Diante da lua, fiz algumas juras de amor. Que ela não tenha ouvido todas, ou quem vai pensar que sou?

Dizem que sou louca, exagerada, vazia, grossa, inspirada, criativa. E vão dizendo, dizendo, dizendo. Mas o que eles não sabem é que vou aqui escrevendo na memória, às vezes falha, cada pedaço de mim. Porque é isso que amo na “escrita”: poder ser eu em cada cantinho.

Às vezes não sei explicar por que levo à mão papel e caneta. Mas meu coração bate feliz em dizer que, na verdade, que mesmo depois de escrever tanto, ainda estou em branco.


segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Gastei minutos, horas, dias. Gastei semanas te admirando, e não me arrependo nenhum instante sequer. Deitada no chão do meu quarto, com duas almofadas recostando a cabeça, eu podia te ver. Mesmo na imensidão eu sabia que era você; não havia como me confundir. Mesmo quando as nuvens te escondiam, eu sabia que quando dispersassem você ainda estaria lá. Teu brilho, ah teu brilho. Com ele meus olhos brilhavam em resposta. Imaginei planos, durante muito tempo, pra poder chegar até você. Desenhei sonhos, só pra poder te ver. Caminhei sem saber onde ir. Em vão. Me cansei, e acabei aqui: deitada ao chão do quarto, apenas admirando tua beleza. E depois de tanto tempo, teu brilho não é mais o mesmo, mas não se preocupe, eu não me canso de olhar. E até quando, queimar e vir para aqui na Terra, não importa quão longe cair, eu irei te buscar. Não vou desistir de você: não posso ingnorar nossa história. Desistir de ti, é desistir de mim. É desistir de tudo que fiz para te alcançar, estrela.



Anallu Goes.

domingo, 8 de janeiro de 2012

Behind yours eyes.

Conte até dez em sua mente quantas vezes for necessário. Controle a respiração. Talvez seja o único movimento que consiga controlar. Aperte suas mãos, até as unhas encontrarem a pele quase machucando-a. O olhar. Não há para onde olhar. Mas definitivamente há para quem olhar. Uma maré cobrirá teus olhos e quando isso acontecer tente inutilmente olhar para cima, e fazer com que as lágrimas voltem de onde vieram - será em vão. Um passo, vamos lá, um passo.  Ótimo começou sua caminhada. Caminhada sabe-se lá até onde. Ele vai estar lá, ao fim. Com um olhar discreto ele vai encontrar você. Mas ele não consegue ter ver - não de verdade, não por dentro. Há uma história pulsando tão forte em você, mas só você a conhece, mesmo tendo tantos personagens envolvidos.Foi uma história de amor linda, essa que você criou. E mesmo que você chore, grite, desabe, ninguém vai entender. Porque foi uma história de amor linda essa que você calou. Não há quem culpar, não há o que temer: nem ele, nem a futura namorada dele, sabem o sentimento que bate em você. Ela, pelo menos, disse algo.


Anallu Goes.