terça-feira, 22 de maio de 2012

Um pouco de cinema e Adélia.


Enquanto o trem se encaixa no enquadramento, repito alguns versos de Adélia Prado. Registro.O facho de ouro jorrado porta adentro” se faz à minha frente, em minha mente. Enquanto a chaminé apita, e espalha toda a fumaça no ar, consigo vê-la, com fome, e que fome. Fome da mãe. “A mãe no fogão atiça as brasas e acende na menina o nunca mais apagado na memória”. Fome de guardar aquele momento, tão rotineiro quanto único. Tão feijão com arroz, quanto delicioso. Não que eu não considere feijão com arroz um prato gostoso, mas a verdade é que a comida dela tinha um tempero a mais, um tempero que ninguém jamais conseguiria acertar. O tempero das histórias que empoeiravam a cozinha simples. O sabor das memórias que se faziam vivas, tão vivas, que chegavam a pulsar em seu poema. Consegue ver? Consegue ver? Não com os olhos, seu tolo! Feche-os até sentir a força das pálpebras se contraindo. Aí sim, agora você vê. Oh, ela saiu do quadro de visão. Onde foi parar? Aquela criança que estava de mãos dadas com a mãe, você não viu? Ah, não importa! Continue sentindo. Continue faminto por sentir. E eu estou indo, meu trem mal chegou já está partindo, vou espalhar essa história. Vou semear Adélia. Com toda fome.

- Anallu Goes

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